O acesso ao espaço é um tema cada vez mais relevante devido ao número crescente de constelações de satélites planeadas e à necessidade de assegurar autonomia neste domínio, tanto mais tendo em conta os recentes desafios geoestratégicos globais. Tanto assim que, por exemplo, a Estratégia Espacial Africana destaca a importância de desenvolver capacidades de lançamento independentes em África. Também na UE o tema do acesso ao espaço tem vindo a tornar-se um elemento central das políticas financeiras e regulatórias, conforme resulta aliás do destaque dado ao tema da aquisição e agregação de serviços de lançamento no âmbito do Programa Espacial da União.

Neste contexto, alguns países africanos têm estado também a explorar ou a investir em centros de lançamento.

Por exemplo, em janeiro de 2023, a República do Djibuti anunciou a construção do primeiro porto espacial em África. A assinatura de um Memorando de Entendimento com o HKATG (Hong Kong Aerospace Technology Group Limited) e o Touchroad International Holdings Group visa o desenvolvimento de um porto espacial comercial internacional e poderá representar um investimento de cerca de 1 milhar de milhão USD durante o curso de cinco anos. Este marco poderá significar uma mudança de paradigma no setor espacial africano, uma vez que este porto espacial seria o primeiro a operar em África, que é atualmente o único continente do mundo sem um centro de lançamento.

A possibilidade de instalação de um porto espacial no Quénia também tem sido avaliada em diversos contextos. Por exemplo, em dezembro de 2022, o país reuniu-se com a Orion Applied Science & Technology com vista a explorar possíveis áreas de colaboração, incluindo o estabelecimento de um porto espacial equatorial.

A Somália tem sido também apontada como um potencial local para instalação de um centro de lançamentos, com a Turquia a planear a construção de um centro de lançamento no país africano para apoio ao seu programa espacial, o qual inclui o objetivo de enviar missões não tripuladas à Lua em 2028.

Também Cabo Verde assinalou o objetivo de aproveitar a sua localização geoestratégica para instalação de um centro de lançamento, aspeto referido na proposta de Estratégia Nacional de Política Espacial (ENPE), conforme mencionado em evento sobre a ENPE ocorrido em 2021.

Por outro lado, o desenvolvimento de infraestruturas instrumentais para o acesso ao Espaço tem sido também um aspeto tido em conta em África: desde logo, a Estratégia Espacial Africana destaca o objetivo de desenvolvimento de segmentos terrestres para telemetria, rastreio e comando, com diversos países a instalarem estações terrestres para o efeito.

De facto, vários países africanos beneficiam de uma localização geográfica ótima para o acesso ao Espaço e para o lançamento de objetos espaciais. Estes países devem, por isso, assegurar que adotam os quadros políticos e legislativos necessários para a construção, operação e exploração de portos espaciais, tendo em conta, entre outros aspetos, a natureza dos portos (por exemplo, públicos, privados ou parcerias público-privadas), os modelos de acesso à atividade (por exemplo, por via de licenciamento ou de processos públicos de contratação), a relação com os lançadores (por exemplo, portos abertos a mais do que um lançador ou não), o tipo de lançamento (por exemplo, lançamentos horizontais ou verticais, lançamentos orbitais ou suborbitais) os requisitos aplicáveis (por exemplo, em matéria ambiental, de segurança e de ocupação do espaço aéreo), os serviços a prestar, e o financiamento a alocar.  A abordagem a outros aspetos relevantes para lançamentos, como seja relativamente a lançadores e a estações terrestres de telemetria e rastreio, deve ser igualmente definida. Acresce que centros para retorno de lançadores estão a tornar-se cada vez mais relevantes dado o advento de lançadores reutilizáveis, aspeto que os Estados africanos podem também começar a ponderar.

O setor privado e os Estados que prossigam atividades espaciais poderão ter, assim, uma alternativa em África aos centros de lançamento atuais, garantindo uma maior frequência de lançamentos sempre que necessário. Por outro lado, a construção e a operação de portos espaciais são também oportunidades para o setor privado de centros de lançamento e de lançadores, podendo, aliás, esses portos ser aproveitados para o desenvolvimento de atividades e produtos inovadores, nomeadamente através da integração de novas tecnologias (tais como inteligência artificial, robótica e sistemas autónomos, impressão 3D e digital twins) que sejam ambientalmente sustentáveis. O recurso a África para a instalação de estações terrestres é também uma opção a considerar tendo em conta a posição geoestratégica dos países e os objetivos de negócio das empresas.