O financiamento de atividades espaciais em África está a crescer, continuando a beneficiar sobretudo de fontes públicas, quer locais (orçamentos nacionais) quer internacionais, numa lógica de financiamento combinado.
Segundo a Space in Africa, os orçamentos das nações africanas atribuíram 534,9 milhões USD em 2022 a programas espaciais nacionais, evidenciando um crescimento acelerado desde 2019. Em particular, a par do incremento do financiamento envolvido, verifica-se também a expansão dos objetivos prosseguidos por esse financiamento, que abrangem hoje conceitos como a democratização do Espaço, o desenvolvimento de tecnologias de propulsão e de lançamento, o desenvolvimento de capacidades humanas e o desenvolvimento de parcerias espaciais locais e internacionais.
As fontes internacionais traduzem-se em investimento proveniente de organizações intergovernamentais e supranacionais (p. ex.: as Nações Unidas, a União Europeia ou o Fundo Monetário Internacional), de bancos de desenvolvimento (p. ex.: o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento ou o Banco Europeu de Investimento), e de outros Estados/governos.
Adicionalmente, destacam-se as fontes privadas, como sejam os fundos de investimento, as empresas e a banca, as quais incluem diversos instrumentos, que podem ir desde donativos à obtenção de empréstimos no mercado (designadamente bancários) e de garantias, a investimento direto (p. ex.: o estabelecimento de um negócio no país ou a aquisição de empresas nacionais) e investimento em ativos financeiros (p. ex.: obrigações e capital). A Africa Finance Corporation, por exemplo, disponibilizou um fundo de 2 mil milhões USD para empresas e organizações NewSpace com vista a apoiar projetos espaciais de desenvolvimento sustentável.
Outras iniciativas, ainda que não dirigidas especificamente ao setor espacial, podem constituir também uma fonte relevante de financiamento tendo em conta o papel instrumental que as tecnologias, serviços e dados espaciais têm em todos os setores.
A este respeito, refira-se, por exemplo, a assinatura, pelo Banco Africano de Desenvolvimento e a Comissão da União Africana, de um acordo de 9,73 milhões USD para fomentar o desenvolvimento do mercado digital em África.
Veja-se igualmente os financiamentos concedidos pela União Europeia, que mobilizou 82,5 milhões EUR para reforçar a cooperação com África no domínio das tecnologias digitais e espaciais, que lançou um pacote de investimento de 150 mil milhões EUR para apoiar África em diversos tópicos para os quais a tecnologia espacial desempenha um papel relevante, como sejam a transição digital e a redução de riscos de desastres naturais, e assinou, com o Banco Europeu de Investimento (BEI), um acordo num valor total de 4 mil milhões EUR para promover investimentos do setor privado nos países de África, das Caraíbas e do Pacífico. Refira-se, também, a título de exemplo, os financiamentos dos EUA, os quais pretendem investir mais de 350 milhões USD e facilitar mais de 450 milhões USD em financiamento para África no âmbito da sua iniciativa Digital Transformation with Africa (DTA).
Por outro lado, embora mais tímido, é expectável também que, à imagem do que tem acontecido noutros ecossistemas, o dinamismo de atividades que beneficiam de tecnologias espaciais (em particular, no contexto da economia digital) tenha um efeito de spill-over e permita atrair financiamento privado para atividades espaciais em África. De facto, África tem hoje um ecossistema de investimento privado relevante em matéria de financiamento de start-ups no setor tecnológico (a exemplo, veja-se a Nigéria, que atraiu cerca de 2 mil milhões USD entre 2015 e 2022) e apresenta várias iniciativas de promoção de start-ups digitais (como é o caso do GITEX Africa/One Africa Digital Summit em junho de 2023).
Não obstante, a relevância do investimento privado apenas ganhará tração se as necessárias ferramentas forem colocadas ao dispor de privados interessados em investir. Nas palavras de um fundo de investimento de capital de risco (que desenvolve, entre outros, um programa de aceleramento de investimentos em África em matérias tecnológicas), continua a ser essencial a construção de um sistema regulatório que apoie o desenvolvimento de atividades de investimento privado no setor espacial e que apoie o desenvolvimento de soluções de financiamento privado ao setor espacial.
De facto, como salientado no passado, o acesso a mercados financeiros por empresas de pequena dimensão, recentes e com produtos ou modelos de negócio inovadores é particularmente difícil.
Por fim, com vista a construir uma base industrial para apoiar as necessidades do setor e fomentar a tecnologia espacial, os projetos espaciais do setor público devem ser conduzidos com a participação do setor privado, sendo um passo essencial que os governos e as suas agências subcontratem atividades espaciais à indústria privada. Ao mesmo tempo, o aproveitamento de oportunidades de financiamento e de cooperação regionais e internacionais poderá maximizar o desenvolvimento e o potencial de produtos e serviços a serem fornecidos pelo setor privado a clientes governamentais, contribuindo assim para as capacidades tecnológicas e comerciais nacionais e do continente africano.